
CAPÍTULO 24
— Encontrei Joshua Lester em um show outro dia. — Darla disse para Joe. Eles estavam no quarto dela sentados no chão aos pés da cama revisando as músicas que compuseram juntos. Havia partituras aos pés dos dois. — Ele perguntou por você.
Após a morte de Susan todos os shows marcados foram cancelaram. Isso os fez perder o pouco espaço conquistado. Depois das primeiras comoções ainda tentaram encontrar outro tecladista, mas ninguém quis se envolver. No condado o interesse pela banda foi diminuindo. Sem ocupação Darla passou a ajudar o pai em alguns projetos políticos. Tyler arranjou um emprego em uma loja de guitarras e fez novos amigos.
— Por mim?
— Claro. Eu contei o que aconteceu e ele disse que a gente deve superar e seguir em frente. Disse que temos talento demais para desistir.
— Não sei se conseguiria Darla. Faz tão pouco tempo.
— Meio ano Joe. — Ela se jogou na cama expondo as pernas nuas. Havia tirado o jeans e estava só de calcinha e camiseta simples sem mangas. Não tinha pudores com Joe e sempre ficava à vontade com ele. Virou-se para o amigo. — Eu acho que Susan iria gostar se voltássemos.
— Eu confesso que tenho pensado nisso. Acha que Tyler voltaria?
— Não sei. Ele se ajeitou na loja. Está namorando a filha do dono. — Riram só de pensar o amigo namorando. — Acho que a princípio, teria que ser só nós dois.
— Uma banda de dois? — Ironizou magoado.
— Uma dupla. A gente acerta apresentações, passa a partitura para os músicos e se vira com o que aparecer até encontrar um bom baterista e um outro tecladista.
— Vai doer.
— Vai.
— Mas dói mais ficar sem cantar.
— É. Eu preciso de algo para me ocupar. Está difícil aturar meus pais. — Baixou os olhos sem jeito. — Eles descobriram que gosto de garotas. Querem me afastar porque posso provocar um escândalo a qualquer momento. O pior que posso mesmo.
— E como descobriram?
— Fui flagrada no banheiro do comitê com uma estagiária nua! — Jogou a cabeça para trás rindo alto.
— Sua louca! Por que se arriscar assim?
— Ah, ela era fantástica e valia a pena!
— Estão juntas?
— Juntas? Claro que não. Foi só naquele dia e foi ótimo.
— Então ainda não namorou ninguém? — Ela acenou que não com ar de desprezo.
— Me prender a uma única pessoa? Não! Nunca! — Perscrutou o rosto do amigo intrigada. — Você ainda pensa em namorar?
— Não. Estou curtindo, como você disse que eu deveria fazer.
— Imaginei. Eu penso em mudar para Londres, ou até viajar, mas minha mãe diz que não é o momento. — Baixou um pouco a cabeça pensativa. — E eu tenho medo.
— Medo? — Joe reclinou o corpo para olhá-la nos olhos. — Você com medo? Medo do que?
— Não sei direito, sei apenas que acordo assustada quase toda noite. Tenho um pesadelo recorrente, estou em uma piscina escura e uma mão vem do nada e me sufoca. — Ela levou as duas mãos ao pescoço apertando para demonstrar. Mesmo sendo ela quem apertava a expressão se encheu de pavor. — É tão real e tão horrível!
— Você acha... acha se Susan foi ... esganada?
— Não. Ela foi esfaqueada no coração. — Frente ao ar espantado do amigo esclareceu. — Eu fiquei algumas vezes com Gillian, a filha do Inspetor Greene. Ela leu o relatório da autopsia e me contou... — Hesitou por alguns segundos, mas resolveu falar. — Susan sofreu muito Joe. Fizeram coisas horríveis com ela. O pior... — Titubeou. — O que vou te contar agora, não pode absolutamente sair daqui, pois ninguém sabe além do senhor Pearson e da polícia. — Joe acenou concordando. — Susan estava grávida!
◆◆◆
Era madrugada quando Joe entrou em casa pela cozinha evitando a sala. Sabia que naquele horário a mãe estava dormindo no sofá. Não queria acordá-la. Se assustou com o doutor sentado à mesa da sala de jantar.
— Teria dormido fora se soubesse que estaria aqui. — Sibilou ao vê-lo.
— Sua mãe me chamou. — Neil Spencer rebateu no mesmo tom. Estava claro que, por ele, também não estaria ali. — Fui buscá-la no posto médico!
— No posto médico? Por quê? O que houve? — Assustado procurou pela mãe na casa. A encontrou no antigo quarto do casal, onde ela evitava dormir desde a separação.
Joe se aproximou, sentou-se na cama e tocou-lhe a testa. Celeste dormia profundamente. Com cuidado afastou os cabelos negros tentando sentir a temperatura. Por que ela foi para o posto médico? Estava doente? Bem verdade que a mãe andava pálida e por mais de uma vez a viu passar mal. Quando perguntou o que era, ela disse... coisas de mulher... Ele não se preocupou e continuou com sua rotina que era sair todas as noites, fosse para se cantar em algum pub, fosse para curtir uma balada, fosse para encontrar alguém e lutar para esquecer os próprios fantasmas. Mal ficava em casa, mal olhava para a mãe ou para o irmão. Sua única responsabilidade era preparar as refeições já que Celeste abandonou a cozinha enjoada demais para cozinhar.
Pela primeira vez sentiu culpa pelo comportamento egoísta que adotou desde que a mãe o obrigou a voltar a morar naquela casa depois do “Horror de Netherfield”, como ficou conhecido, pelas redondezas, o assassinato de Susan e o afogamento de Hans. Odiava esbarrar no doutor que mantinha as visitas regulares e geralmente passava os finais de semana. Ficava mais tempo no chalé, que apesar de continuar a venda continuava sendo seu refúgio.
— O que ela tem? — Perguntou quando voltou para a sala.
— Nada. Só o maior bem que uma mulher pode ter. — Frente a confusão nos olhos do rapaz o médico completou com desdém. — Um bebê!
A imagem de uma deusa ruiva cavalgando sobre ele explodiu na mente e Joe arregalou os olhos chocado. Uma dor o cortou de cima a baixo, como se o partisse ao meio. A cena veio e se foi em um flash e, sem definir se pela projeção que o dominou ou pela notícia recebida, cambaleou desnorteado! Respirou buscando ar atordoado pela revelação.
A mãe estava grávida!!!!
Em um segundo folego se deu conta de que teriam um bebê naquela casa. Um pacotinho de gente indefeso para amar, cuidar e proteger incondicionalmente. Ele teria que proteger a criança que viria para trazer luz a sua existência. Era seu bebê, seu e de ninguém mais. A criança enviada para ser seu elo com o mundo Koryak. Hans o avisou. Ele sabia que ela estava a caminho. De repente tudo fez sentido. Não era mentira, não era loucura. A criança lhe fora enviada para abri-lhe os olhos e seu dever era protegê-la. Respirou de novo tenso rindo da própria imaginação. O riso pareceu ofender o médico que levantou e foi para a cozinha. Pela primeira vez em anos, foi atrás do homem que um dia chamou de pai.
— Como isso aconteceu? — Perguntou vendo-o encher a chaleira.
O médico colocou a panela no fogão. Acendeu o fogo.
— Geralmente ocorre quando um homem e uma mulher fazem sexo e não se previnem. — Disse neutro.
— Achei que não dormiam mais juntos. — Sibilou enojado.
Quando o padrasto infeliz aparecia ficava no quarto de hospedes. Não houve um divórcio, mas de fato pareciam separados há meses. Era pela rejeição silenciosa e fria do marido que a mãe bebia.
O médico parou o que fazia. Permaneceu de costas pensativo.
— Temos nossos momentos. — Murmurou incerto. — Você nunca está aqui para ver.
— É o que vai acontecer agora?
— Não pensei ainda. Talvez faça o aborto enquanto é cedo.
— Aborto? — Sentiu-se gelar por dentro. — É isso que a mamãe quer?
— Ela não precisa saber. — Neil deu os ombros indiferente.
— Não! — Gritou avançando contra ele. — Não pode...
Neil mal se moveu. Sem sequer balançar a chaleira que segurava esticou o braço contendo o avanço do garoto com a mão espalmada. No refluxo do impacto Joe bateu as costas na bancada de mármore. As pernas dobraram pelo golpe na coluna. Ele caiu sentado levando a mão ao tórax desejando conter a dor. Parecia que o coração iria explodir tamanha força que o atingiu. Ficou zonzo por alguns segundos. Não importava, ele não iria... Antes que pudesse se recuperar a mão do médico lhe encontrou a garganta e o levantou com raiva.
Para um homem com mais de sessenta anos, Neil Spencer continuava forte e ágil. O garoto agarrou a mão que o esganava tentando se livrar.
— Era o que eu devia ter feito quando ela apareceu grávida da primeira vez. — O olhar era de pura repulsa. — A convenci a ter você, casei com ela e hoje você só serve para infernizar minha vida.
— Me larga seu... seu monstro! — O ar começava a falhar.
— Mais respeito garoto insolente! — Riu frio soltando-o. Sacudiu a mão no ar como se estivesse queimada. — Deve sua vida a mim!
Joe quase caiu quando foi solto. Uma dor que não era apenas física o atravessava lentamente.
— Vá para o diabo! — Sibilou amargo. — Não vai matar esse bebê!!
— Não é você que decide.
— Mamãe não vai concordar!
— Se eu quiser, ela sequer vai saber. — O médico afirmou simples.
Joe sabia que ele era capaz. Em um salto correu para o quarto. Bateu à porta, esperando o doutor persegui-lo. Ele não veio. Na cama a mãe continuava adormecida. Foi até ela, tocou o rosto pálido, a sacudiu, a chamou com carinho. Nada. Decidiu. Tinham que ir embora. Não poderiam ficar ali à mercê do médico monstro.
Do armário tirou uma mala grande e jogou algumas peças de roupa da mãe dentro. Abriu a porta. Da cozinha o som do apito da chaleira indicava que o médico continuava ocupado com o chá. Foi para o escritório, tremendo abriu o cofre, revirou os papeis, juntou as joias e dinheiro. Parou quando viu a arma. Sabia que o doutor a tinha, mas não que a guardava no cofre. Hesitou um segundo, a pegou e colocou na cintura. Guardou os outros pertences em um saco que tirou do próprio cofre. Movia-se rápido. Queria ir embora logo.
Voltou para perto da mãe. Tentou, outra vez, acordá-la. Tinha que tirá-la dali enquanto podia. Foi ao banheiro e molhou uma toalha e voltou. Estacou na porta quando encontrou o doutor no quarto, sentado na cama. Lembrou. Naquela casa não havia portas trancadas.
— Não vai machucá-la. — Puxou a arma e apontou para ele.
O enfrentou sem medo. Mataria ou morreria por aquele bebê.
— Não pretendo machucá-la. — Neil disse com frieza sem ligar para a ameaça. Olhava a esposa dormir como se nunca a tivesse visto. — Quem sempre me tirou o controle foi você. Só você. Mas agora... — O olhou com desprezo. — Está velho demais para mim. Perdeu o encanto. — Levantou-se. Caminhou até ele. — Se eu quisesse este bebê morto ele já estaria. Portanto abaixe isso antes que se machuque.
— Eu, minha mãe e Nick vamos embora daqui. — Joe disse firme e levantou a arma.
— É? Para onde? — Neil cruzou os braços. — E vão viver do que?
— Vamos dar um jeito.
Se encararam por alguns segundos. Joe tremia visivelmente, enquanto o médico era o espelho da calma. Se encaravam em desafio. No instante seguinte Neil olhou para a mulher adormecida e deu os ombros displicente.
— Pode ir se conseguir acordá-la.
— Deu algo a ela? A drogou?
Assustado Joe foi até a mãe, largou a pistola na cama e tentou levantá-la. Tinha que fazê-la vomitar, tinha que... ...caiu quando foi empurrado para o chão. Quando conseguiu se aprumar Joe fechou os olhos ao sentir a pistola encostada na própria testa.
— Dá próxima vez destrave a arma antes de apontá-la para alguém. Assim. — Neil mostrou como se fazia. — Já disse: Se eu quisesse o bebê morto, ele já estaria. Ou você, ou ela. — O médico tirou o pente, a bala do cano, os colocou no bolso, travou a arma e a colocou na cintura. — Sua mãe está bem. O bebê também. Assim como este casamento, o bebê também me é útil, então não vou fazer nada contra ele. — Afirmou seco. Pôs o garoto de pé e o empurrou para fora do quarto. — Agora vá dormir. Amanhã vamos resolver como restabelecer nossa família!
A porta foi fechada e trancada. Joe ficou no corredor tremendo sem saber o que fazer.
◆◆◆
— Quem é o pai? — Joe chegava à sala de jantar quando ouviu Neil perguntar como se falasse sobre o tempo ou algo perdido. Encontrou a mãe e o padrasto sentados à mesa, aparentemente tomando café da manhã.
— Isso não importa. — Uma Celeste pálida respondeu de cabeça baixa.
— Quem é o pai? — Neil repetiu sem se abalar com a chegada do garoto.
— Já disse. Não importa! — Frente à confusão de Joe Celeste disse tensa. — Neil me disse que já sabe que estou grávida Joe. Ele queria que eu... mentisse dizendo que o filho é dele, mas não posso fazer isso. Este bebê... não é de... seu... pai... não é de Neil. — A explicação foi tão coesa e nada o surpreenderia mais. — Acho que o melhor é nos divorciamos. — Celeste completou olhando o marido sem jeito e Joe quase exultou por dentro.
— Quem é o pai desta criança? — Neil repetiu mais frio. — Quem é seu amante? — Partiu um pedaço de queijo e se serviu sem tirar os olhos da esposa.
— Neil... Não estou tendo um caso, foi um deslize. Prefiro guardar a informação apenas para mim, para não complicar a vida dele e a minha ainda mais.
— Por que ter um filho complicaria a vida dele? — Neil quis saber.
— Porque ele é casado. — Celeste declarou constrangida. — É um bom homem. Não teve culpa. Foi um momento de fraqueza.
— Não estou zangado. Também tive meus momentos nestes meses que estamos separados e não foram de fraqueza. — O marido informou sarcástico. — Não se preocupe, não considero que tenha me traído, mas você sabe que não quero me divorciar.
— Agradeço, mas não posso pedir que aceite este bebê também. O divórcio é melhor.
— Entendo. — Reclinou na cadeira olhando-a com interesse — Se quiser posso fazer o aborto. — O brilho nos olhos do médico era assustador.
Joe avançou.
— Não! Nunca! — Quase gritou. Ficou ao lado dela e abrandou o tom. — Tudo bem, mãe. Não importa quem seja o pai. Vamos ter esse bebê. Sou eu que vou cuidar da senhora daqui para frente!
— Você sequer consegue cuidar de si mesmo! — O médico rebateu irônico. Levantou e pegou o casaco. — Olhe para você! Não tem emprego, não tem ocupação nenhuma, não estuda, desfez a banda. Duvido que possa contar sem se envergonhar, o que faz pelas noites por aí. — Joe corou envergonhado. — Celeste, se quiser ter a criança pode contar com o meu apoio. Mas se preferir não ter posso fazer o aborto. Agora, esqueça essa ideia de divórcio. Já disse que isso me prejudicaria muito. A primeira fase da minha pesquisa terminou, posso ficar aqui mais tempo. Retomaríamos nosso casamento e...
— O que? Não! — Joe protestou.
— Pense bem Celeste. O aborto é uma saída. Sei que é uma decisão difícil, mas ter um filho sozinha, nesta idade também é. — O doutor se aproximou. — Continuamos casados. Todos vão pensar que o filho é meu. Voltaríamos a ser uma família feliz. Vocês precisam de mim.
— Nunca fomos uma família feliz! — Joe rebateu assustado. Se voltou para a mãe. — Não precisamos dele! Não precisamos de ninguém.
— Precisam. Você sabe que não vai conseguir ter este filho sem o meu apoio. Você sabe o quanto fica doente durante a gravidez! E você precisa cuidar de Nick a ainda lidar com... isso! — Apontou Joe com desdém. — Não pode ficar sozinha.
— Ela não está sozinha. Ela tem a mim! E desta vez será diferente!
O médico gargalhou.
— Pense querida. Posso voltar para casa hoje mesmo. Só preciso pegar alguns arquivos no meu consultório, minhas coisas no apartamento que alugo e voltar.
— Não vai... Mamãe nós vamos... a senhora pode... — Tentou se aproximar da mãe.
— Garoto não se meta! — Neil sibilou empurrando Joe contra a parede. — Cala a boca, não se meta!
— Neil!! Neil solte-o! — Celeste se colocou entre os dois. — Vá embora Neil! Agora! Vá embora! — Disse áspera para o marido.
O médico estreitou os olhos como se não a reconhecesse. Mirou Joe e saiu furioso batendo a porta. Mãe e filho se encolheram com o som e só depois de alguns segundos relaxaram. Celeste voltou a sentar tremula. Joe se voltou para a mãe.
— Obrigado. — Murmurou sério. — Não precisamos dele. Vai ficar tudo bem.
— Não Joe, não vai. Ele está certo. Vou precisar de ajuda. Já não me sinto bem e a gravidez mal começou. Neil ainda é meu marido e nem sei por que nos afastamos. Se ele me perdoa a ponto de aceitar o filho de outro homem mais uma vez por que devo recusar?
— Porque ele é um monstro! Ele é um monstro! — Joe disse magoado frente ao olhar descrente da mãe. — Por que não acredita em mim? — Celeste abaixou a cabeça confusa.
— Não estou bem para discutir isso agora Joe!
— Devia recorrer ao pai desta criança. — Joe murmurou magoado recuando. A mãe estava esgotada. — Quem é?
— Não importa. Foi um deslize que aconteceu com alguém que tem muito a perder. Prefiro guardar isso apenas para mim, para não complicar a vida dele e a minha ainda mais. Para todos os efeitos está criança também é de Neil. — Murmurou sem forças.
— A senhora falou em divórcio, mas parece que está em dúvida. Não pode pensar em voltar com ele. Não pode permitir que ele viva aqui. Nick é pré-adolescente, a senhora está grávida exatamente como foi quando ele começou a me... — Parou sem coragem de continuar vendo o ar cansado da mãe. — Mãe, não precisamos dele. Não importa quem seja o pai. Sou eu que vou cuidar de vocês duas!
— De nós duas?
— É. Eu acho que... eu acho que é uma menina.
— Uma menina. — Mesmo em meio às lágrimas contidas Celeste riu leve. — Sinto o mesmo. Este bebê também não é fruto do meu casamento, mas não sinto vergonha por tê-la dentro de mim. Já a amo da mesma forma que amei você e seu irmão.
— Não tem por que se envergonhar.
— Não tenho? — Riu triste. — É tudo tão complicado... Eu não entendo... Não importa. Amo cada filho que tenho e já amo este bebê. Às vezes acho que posso ouvi-la, por isso sei que é uma menina. Uma menina linda que vai se chamar Natalie. — Amorosa acariciou o ventre. — Este bebê virá para preencher nossas vidas Joe.
— Eu sei. — Sorriu e a abraçou. — E eu vou ficar ao lado dela para sempre. Não precisamos dele. Não o quero por perto. Vamos dar um jeito. Vou cuidar de tudo, eu prometo.
◆◆◆
Celeste foi para o quarto pensar e decidir o que faria. Sabia que a separação era difícil para Nick. E ficar sozinha durante a gravidez não ajudava em nada. O filho via o pai com regularidade e nutria a esperança de que um dia voltariam a ser uma família. No fundo ela também nutria essa esperança. Depois que Joe foi morar no chalé o marido a procurou desmentindo toda a história de abuso. Ela ainda questionou o porquê de ter aceitado o acordo se as acusações eram falsas.
— Tem ideia do que uma acusação como está, mesmo falsa faria a minha carreira? Seria a minha palavra contra a dele e a justiça é sempre tendenciosa a acreditar no acusador. Como médico já vi inúmeros casos assim. Sempre se é culpado. Nunca duvidam da suposta vítima, principalmente se ela for menor. Joe sempre foi um garoto difícil, eu o mimei demais, mas eu juro que nunca toquei nele dessa forma! Você, mais do que qualquer pessoa sabe que eu... não teria como fazer o que ele me acusa! Você é minha esposa, sabe que...
Repetiu e repetiu isso em todas as oportunidades que teve. Celeste não contou ao filho o quanto o marido a rondava. Não sabia o que pensar. Neil alegava inocência e o filho o acusava de abuso. Ficaram separados e a vida perdeu o sentido. Esposa e mãe, era tudo o que sabia ser. Joe vivia em função do namorado e da banda, Nick a culpava por não ter o pai em casa e para escapar ela bebia.
Agora estava grávida depois de uma única vez com quem não devia e... Não tinha forças para continuar sozinha. Estava doente, cansada, precisava de um protetor para ela e para a filha. Se não fosse a acusação de Joe... Ela lembrava de que o filho vivia machucado. Sempre arredio e agressivo. Irônico, sarcástico e ferido. Era uma dor que ela nunca entendeu, mas se tudo o que disse sobre o pai fosse verdade explicava o comportamento que tinha. Por outro lado, ela sabia que era fisicamente impossível para Neil fazer o que Joe o acusava, já que o marido era impotente desde o nascimento de Nick.
E a gravidez era difícil e o ex-marido queria participar. Logo no dia seguinte ele mesmo marcou a primeira consulta para o pré-natal e fez questão de acompanhá-la. Joe ficou muito irritado quando o encontraram no consultório. O filho cedeu o lugar durante o exame ultrassom para não fazer uma cena, mas naquele dia brigou com a ela e foi dormir no chalé. Quando a deixou em casa Neil voltou a insistir que não havia sentido continuarem separados.
— Joe já é um rapaz Celeste. Ele precisa cuidar da própria vida. Ele quer cantar, dançar, viajar! Não pode se prender como quer fazer. Pense nele, pense em Nick, pense neste bebê que vai nascer. Tudo será melhor se estiverem sob minha proteção.
E para evitar que Joe assumisse responsabilidades que não eram dele, Celeste retomou o casamento.