
PROLOGO
— Hei inglês!! Cuidado!
Alguém gritou ao longe enquanto a bola oval girava veloz na direção do rapaz que, em um reflexo perfeito, arqueou o corpo abrindo um arco lateral e a agarrou entre ele sem dificuldade. Ignorando os gritos de surpresa e admiração de quem passava, o garoto girou a bola nas mãos por alguns segundos enquanto os rapazes que jogavam pediam que a mandasse de volta. Ele mirou um dos últimos jogadores, se colocou em posição e fez o arremesso direto nas mãos do recebedor.
Outra leva de gritos de admiração e alguns aplausos. Por um instante a sombra de um sorriso pairou enquanto ele acenava em resposta, mas logo a sombra sumiu, ele se virou e seguiu caminhando ignorando o movimento em volta. Não via os jovens que passavam apressados com livros, malas e mochilas, carregando os carros na ação frenética de partida. Não via os encontros e as despedidas normais quando o verão chegava e as férias começavam em um campus. Caminhava para o dormitório onde passou o último ano e pretendia ficar pelos três próximos até se formar. E depois... ainda não sabia o que faria depois. Talvez permanecesse na América. Pensar em voltar era doloroso. Na verdade, não tinha para o que voltar.
— Jogador de rúgbi! — Um rapaz afrodescendente disse ao seu lado depois de uma pequena corrida. Ele parou sem entender. — Você é jogador de rúgbi acertei?
— Era. Há muito tempo.
— Não perdeu o jeito. Tem um arremesso de ouro ai! — Disse satisfeito. — Samuel Palmer. — Se apresentou estendendo a mão.
— Don Bradley Weston. — O rapaz respondeu se afastando um passo.
— Don? — Samuel arqueou uma sobrancelha sem entender.
— Donovan. — O nome foi murmurado quase como se causasse dor. — Desculpe, não gosto de tocar em ninguém. — Informou desviando o olhar.
— Não? Mas rúgbi é um jogo de contato. — Recolheu a mão com ar desconfiado.
— É. Por isso parei de jogar quando essa fobia a toque começou. — Respondeu calmo. — Posso ajudar de alguma forma Senhor Palmer?
— Senhor Palmer?!! Você é inglês mesmo! Me chame Sammy. Não quer jogar conosco? Pode ser WR. Tem um passe fantástico e jeito de que é bom corredor. Já que não gosta de ser tocado quando pegar a bola pode correr à beça para fugir dos adversários. — Apontou o grupo que aguardava. — Estamos tentando montar um time para o campeonato amador. São jogos quase amistosos que acontecem durante as férias. Joshua o cara que lançou a bola na sua direção, seu colega de quarto disse que você vai ficar no campus.
— Nunca joguei futebol americano.
— É um filho do rúgbi então não terá dificuldade. — Sammy viu o rapaz desviar os olhos, pronto para recusar. — Não precisa passar o verão sozinho Bradley. É assim que gosta que o chamem, não é? Pelo segundo nome. Joshua nos disse que você... fez poucos amigos desde que chegou.
— Não vim fazer amizades. — Desviou o olhar para um ponto qualquer acima da cabeça de Sammy.
— Mas elas vão surgir se der uma chance. — Sammy se colocou na linha de visão dele. — Joshua quer ser seu amigo e... o resto do time também.
— Joshua só está preocupado. — Disse áspero. — Eu já me desculpei por perturbá-lo, já expliquei que estou bem e que não há nada a fazer. Eu já contei que todos se foram.
— Eles se foram mais você continua aqui Bradley. — Sammy disse gentil.
— Eu já faço terapia, Sammy obrigado. — Rebateu tenso.
— Não estamos lhe oferecendo terapia. Estamos lhe oferecendo amizade. Não pode continuar se isolando. Além de time de futebol nós somos uma associação de jovens...
— Religiosos! Joshua me falou a respeito. Não preciso ser doutrinado e não preciso ser salvo.
— Talvez não precise ser salvo. Talvez apenas precise ser lembrado de que é amado. — Sorriu amistoso. — Vamos nos reunir no campo amanhã as oito. Venha pelo menos nos ver jogar. Prometo que ninguém vai tentar doutriná-lo e que ninguém vai fazer perguntas sobre o que aconteceu com sua família. Apareça.
Com um aceno se afastou dando uma corrida até o grupo de rapazes que o esperavam e acompanhavam a conversa ao longe.
— E aí, como foi? — Joshua perguntou interessado.
— Eu o convidei para vir jogar conosco amanhã. — Sammy disse para o grupo com ar resignado. — Não acho que irá.
— Vou falar com ele mais tarde. — Joshua disse olhando o colega de quarto se afastar com passos lentos, ombros curvados, cabeça baixa, sem olhar para os lados. Sentiu um aperto no peito. — Tenho que chegar cedo antes que ele... que ele comece a chorar.
— É verdade mesmo? Ele chora todas as noites? — Outro rapaz perguntou também compadecido.
— É. E, cara, é de partir o coração! Quando ele chegou, por algumas semanas foi um cara normal. Meio triste, mas normal. Chegou a sair com o pessoal do campus, participou das aulas e deu um show nos debates. O cara é muito inteligente! Não tem cálculo que não resolva de cabeça. Aí um reverendo veio visitá-lo e ele... ele entrou nessa depressão que ninguém consegue tirá-lo.
— Tem certeza de que ele não é autista? — Outro perguntou. — Tenho algumas aulas com ele e para mim ele parece ser autista.
— Não, cara, não é. O olhar distante, fora de foco é porque se ele olha para a gente os olhos se enchem de lágrimas e ele chora. É triste.
— E você sabe o que aconteceu? — Sammy perguntou preocupado.
Joshua respirou fundo antes de relatar.
— Não é minha história, mas vocês precisam saber para entender por que pedi ajuda. Ele ligava para a mãe todas as noites, de madrugada na verdade. Parece que ela estava no oriente, mas não sei onde. Ele ligava e falavam muito sobre o irmão que, pelo o que entendi, estava doente. Quando ele estava bem eu o convidei para o meu aniversário e ele se negou. No dia da festa insisti, sabe como sou. Ele disse que não iria porque não tinha sorte com aniversários, que muitas coisas ruins acontecem. Semanas depois ele me disse: “Lembra que eu te falei que não tinha sorte com aniversário? Meu irmão se afogou no dia do meu aniversário e morreu no dia que completou 16 anos. Então ele começou a falar como se precisasse sabe? Contou que o irmão se afogou na piscina no dia do aniversário dele, teve danos neurológicos e não acordou. Contou que, na mesma semana, o pai limpou a conta da família e foi embora sem deixar pistas. Por causa disso o pai do irmão que era outro, apareceu e levou o garoto para fora do país. A mãe foi para poder cuidar do filho, já que Bradley vinha para a universidade. O irmão tinha um pai importante, o enterro até foi transmitido pela internet e ele assistiu. Foi muito triste. Ele chorou de um jeito! Nunca pensei em ver um inglês chorar, ainda mais daquela forma! Mas ele aguentou, disse que precisava ser forte pela mãe. Ela resolveu vir ficar com ele aqui na América, parece que não tinham mais ninguém, eram só os dois... Eu o ajudei a fazer um requerimento para um apartamento no campus para morar com ela, estava procurando um trabalho... aí um reverendo apareceu para contar que o avião no qual a mãe voltava para Londres caiu. — Expressões de pesar correram pelo grupo de rapazes. — Se ele já estava mal, desabou de vez. Agora ele chora todas as noites. Às vezes alto, as vezes se segurando, mas ele chora. Informei ao administrador porque eu tinha medo de um dia chegar e... bom... tinha medo de ele acabar com a dor. A administração o mandou para a terapia e as crises de choro diminuíram, mas não pararam. — Balançou a cabeça triste.
— Acha que ele era religioso? — Sammy quis saber preocupado.
— Não sei, talvez não. Mas acho que mãe era já que foi um padre que veio de Londres para falar com ele. Eu já tentei de tudo para ele conversar, mas ele se fechou de uma forma... Vi pelas fotos que ele jogava rúgbi e percebi uma vez que a bola caiu perto dele que quando a pegou ele... meio que sorriu. Então decidi contar para vocês o caso para tentarmos ajudá-lo.
***
Quando Bradley entrou no dormitório sentiu o coração se acalmar um pouco. Era difícil andar pelo campus vendo todos rindo e se divertindo. Tinha uma vontade imensa de socar alguém, quem quer que fosse! Odiava as risadas altas, o modo arrogante dos rapazes, o eterno flerte das garotas. Queria paz e solidão para conseguir domar a dor que o cortava todos os dias. Dor e saudade. Estava afogado pela perda de Hans, da mãe e sufocado pela ausência de quem amou. Às vezes pensava em voltar, aceitar que o irmão se sacrificou para que pudessem ficar juntos neste ciclo, mas nunca conseguiria ser feliz com Joe com a sombra da morte de Hans pairando entre eles. Já havia a sombra da morte de Apravel, de Hannya, de Susan... e tantas outras!
Apravel, Hans e Susan já não existiam mais neste ciclo, mas Bradley precisava cumprir o próprio todo ou ficaria aprisionado no limbo até que o tempo determinado terminasse. E o limbo da angústia era tenebroso mesmo para o mais puro dos Koryaks. A pontada que sentiu nas têmporas seguida por um zumbido intenso nos ouvidos o fez fechar os olhos, se perguntando quem era Apravel...
Justificou o estranho mal-estar como fome. Sentia o vazio do estomago, mas a vontade de comer era inexistente, mesmo assim precisava se alimentar. Lutou contra o enjoo até o zumbido silenciar e o nome Apravel desaparecer, restando apenas a dor pela morte do irmão caçula.
Horas mais tarde Joshua o encontrou deitado olhando para o teto como sempre. No chão, ao lado da cama, uma bandeja continha restos de biscoitos e uma caixa vazia de achocolatado.
— Este foi seu almoço? — Perguntou jogando a mochila na cama que ocupava.
O local era o típico dormitório estudantil. Cada estudante ocupava um lado e cada lado era o espelho do outro. Havia uma cama de solteiro, uma mesa de cabeceira, um pequeno armário para roupas e uma mesa de estudos com poltrona e computador. Uma porta lateral dava acesso ao banheiro e uma pequena cozinha com pia, micro-ondas, frigobar e fogão de duas bocas foi encaixada em outra parede. Tudo compacto e funcional. O local alternava tons de azul, mas enquanto o lado de Joshua as paredes estavam cobertas por fotos de família, cards de estudos, posters dos ídolos dos esportes e de bandas de rock, o lado de Bradley era vazio.
Havia uma única foto, na mesa de cabeceira, do amigo usando uniforme de jogador de rúgbi, ao lado da mãe e de quem Joshua acreditava ser o irmão, um adolescente tão alto quanto o colega de quarto e muito parecido com ele, apesar dos cabelos escuros e os olhos verdes, enquanto Bradley era loiro e com olhos que mudavam conforme a luz. As vezes eram cinzentos, outras horas âmbar, o que era raro em loiros, Joshua sabia, pois, estudava biomedicina e as singularidades do DNA fazia parte da grade do semestre.
— Não estava com fome. — Bradley respondeu baixo sem desviar o olhar do nada que encarava.
— Você nunca está com fome, mas devia tentar comer melhor, já perdeu uns bons quilos depois que chegou aqui. — Sem resposta Joshua tirou o celular do bolso e começou a digitar. — Estou pedindo uma pizza para nós. Qual o sabor que você gosta mesmo?
— Não quero pizza, Josh. Obrigado!
— Ah, merda! Não entregam mais aqui por causa dos badboys das fraternidades. — Avisou lendo a resposta que recebeu. — Vamos ter que ir até a pizzaria. — Falava enquanto tirava a roupa na frente do amigo, sem perceber que, por um minuto, Bradley o olhou e enrubesceu sem jeito.
— Josh...
— Anda Brad. Uma pizza! Não vamos demorar. Sabe que detesto comer sozinho e... — Interrompeu o que o amigo pretendia dizer. — ... os rapazes do time já estão com as namoradas a esta hora, não tenho ninguém para chamar. Odeio ser o único solteiro no meio de um bando de caras enrolados com garotas. Você é meu amigo precisa me socorrer nessas horas, então não diga não. — Entrou no banheiro, ligou o chuveiro deixando a porta aberta que era de frente para a cama de Bradley. — Um banho rápido e saímos!
Por alguns segundos Bradley manteve os olhos fixos no teto. Respirou fundo e engoliu o nó que se formava na garganta. Mordendo os lábios arriscou um olhar para o banheiro. Bem a sua frente, Josh tomava banho e, como geralmente acontece com rapazes, alisava o membro enquanto o lavava. Mesmo embaçado pelo vidro do box, os movimentos eram nítidos. Não conseguiu desviar o olhar apreciando o corpo esbelto do amigo, contendo a pontada no baixo ventre. Sentia falta de sexo. Era jovem, gostava de sexo e sentia falta, mas também sentia uma dor imensa quando se lembrava de quem amava e de tudo o que havia acontecido.
Sem notar que era observado Joshua se virou e ficou de costas, dando-lhe a visão das nádegas lisas e arredondadas, muito parecidas com outras onde antes se enfia... Bradley levantou em um salto e ficou procurando algo no armario, estrategicamente de costas para o banheiro.
Aqueles pensamentos eram inadequados e perigosos.
— Resolveu ir? Que bom! — O rapaz voltou ao quarto usando apenas uma toalha na cintura. Displicente se sentou na cama, que era há dois passos do amigo, se livrou da toalha e começou a se vestir. Bradley lutou para manter os olhos na tela do computador. Às vezes tinha a impressão de que Joshua fazia de propósito. — Vamos?
O não estava na ponta da língua. O roncar do estomago o fez hesitar, provocando um sorriso em Josh. O colega de quarto era legal, preocupado com ele desde que se conheceram. Queria considerá-lo um amigo, mas perdeu tudo, até os amigos quando deixou Londres. Não respondeu uma única mensagem ou ligação de Peter ou de qualquer outro. Até Darla ligou para ele. Com o passar dos meses os amigos deixaram de tentar contato e a solidão se solidificou como uma parede de concreto.
Concreto que Joshua tentava escavar com seu jeito debochado, suas piadas ruins e sua insistência persistente em tirá-lo detrás das muralhas construídas. Exatamente como fazia enquanto caminhavam até a pizzaria do campus, falando sobre os jogos que iriam ter contra o time dos bombeiros, dos policiais, dos socorristas, de outras universidades e até de um grupo de presos de uma prisão local. Era um campeonato amador disputado e todos queriam vencer.
— Você é um excelente lançador. Teríamos vantagem se concordasse em participar. — Concluiu assim que se acomodaram frente a frente em uma das mesas, nos fundos da pizzaria. — O que acha? — Bradley mantinha os olhos baixos. Joshua reclinou a cabeça tentando olhar nos olhos dele. — Hummm? Vai jogar conosco? Precisamos de você cara! Vai ser divertido!
— Talvez este seja o problema. — Bradley murmurou pegando o cardápio e se escondendo atrás dele.
— Se divertir não pode ser um problema Brad. — Rebateu mais sério. — Você está vivo e precisa disso.
— Josh você já prometeu...
— Eu sei mas,...
— Seu “Eu sei” perde o significado como qualquer coisa dita antes de um mas. — Bradley deu ao amigo um olhar magoado, fechou o cardápio pronto para se levantar e ir.
— Está bem, está bem! Se não quer ir para se divertir, venha para nos ajudar a ganhar dos badboys. Acredita que os riquinhos estão organizando um time só deles e não aceitaram nenhum bolsista, mesmo os atletas? Querem provar que são superiores este bando de filhos de... — Calou vendo o ar surpreso do amigo. — De... esnobes nojentos.
— É bom lembrar que xingar é considerado blasfêmia na maioria das religiões. Acho que você não quer disputar uma vaga no time do inferno.
— Você fez uma piada? — Joshua arregalou os olhos animado.
— Josh..
— Certo! Tudo bem! Beleza! Você fez uma piada! Só vou responder a altura e rir. — O rapaz ria pensando na resposta a dar. — É! Certo! Verdade! Não, não quero mesmo! O time do inferno é quente demais e vão queimar a bola no primeiro lance.
Bradley franziu o cenho olhando o rapaz à frente dele que ria de forma escandalosa. Sem resistir deu um meio sorriso, transformando a gargalhada forçada do amigo em uma risada real.
— Você é um idiota! — Disse arqueando o corpo para fazer o pedido ao garçom parado ao lado deles.
Nunca comeriam em silêncio. Joshua continuou tagarelando sobre o time, o campeonato, as aulas, a felicidade das férias, mas pela primeira vez Brad não desejou travar aquela matraca e conseguiu até prestar atenção em algumas partes da conversa.
— O melhor dos jogos são as comemorações. As garotas ficam dando mole para os vencedores, mas também querem consolar os perdedores. São festas quentes onde ninguém fica sem dar uns amassos! — A atenção dele foi para a porta, onde um grupo com três garotas e dois rapazes entravam de forma ruidosa e animada. — Cara, olha só quem chegou! Tracy não é linda? Uma patricinha sem coração, mas ainda assim linda. — Joshua se inclinou sobre a mesa para poder falar mais baixo. — Dizem que ela terminou com Thompson e que ele está furioso. — Completou quando o grupo se sentou em uma mesa lateral a deles, em outra ponta do salão, mais próxima as paredes de vidro.
Bradley não disse nada. Mirou o grupo sem interesse até notar um dos rapazes que estava com as moças. Aprumou o corpo sem perceber. O rapaz, visivelmente um gay afeminado, tinha os cabelos castanhos cacheados e jogados de lado e o rosto maquilado. Usava uma camiseta branca acinturada e uma bermuda vermelha bem mais curta do que o normal. As unhas pintadas de rosa combinavam com o batom que destacava os lábios bem-feitos. Ria e sorria para os amigos contando algo não audível.
— Aquela é Julia, uma das melhores amigas de Tracy. É uma patricinha também, um pouco menos cruel, pois se faz de difícil alegando que está aqui para estudar e não para dar bola para qualquer um. — Ele completou deduzindo que o amigo olhava para outra garota do grupo. — A ruiva é Camile e os dois caras que estão com elas são os amigos gays que toda patricinha acha legal ter! — Bradley olhou para ele travando o maxilar. — Se fosse outra garota que te incentivaria a ir falar com ela, mas aquele grupinho ali é formado por corpos sem coração. Não dão mole para ninguém.
— Não fale assim! — Impôs com o olhar irritado. — Não desrespeite as pessoas. Elas têm todo direito de “não darem mole” para ninguém.
— Wow! — Josh riu alto! — Juro que vou xingar meio mundo se você reagir sempre assim! Tremi na base agora!
Bradley ficou olhando para o riso bobo do amigo. Outro meio sorriso se formou.
— Babaca! — Murmurou e desta vez Josh gargalhou animado.
Lembranças de outro grupo de amigos vieram e trouxeram a tristeza de volta e nos minutos seguintes Bradley já não ouvia o que o amigo falava, até o tom perder a animação.
— Bradley. — Joshua chamou novamente preocupado. O amigo levantou os olhos meio marejados para ele. — Vai ficar tudo bem cara. Está começando a diminuir, uma hora vai passar.
— Não sei se quero que passe. — Bradley murmurou.
Antes que Josh pudesse responder uma confusão na mesa das garotas começou. Três rapazes, entre eles o tal de Thompson, discutiam com o grupo que já estava de pé, tentando passar e sair. Camile e Julia protegiam a amiga Tracy e os dois rapazes faziam frente aos outros três, enquanto o namorado rejeitado os empurrava para tirá-los da frente e alcançar a jovem.
— Ela não vai com você! — Uma dizia.
— Não complica as coisas Tracy, eu só quero conversar. — Thompson rebatia.
— Não! Não vou! Eu não quero! — Tracy se esquivava assustada.
As amigas gritavam não, solta, para, não faz isso, de forma desordenada e meio desesperada. Apesar do local não estar vazio ninguém intervia, afinal aqueles três eram os mais temidos da fraternidade Badboys que dominava o campus.
— Não se metam. Ele só quer conversar com ela. — Um dos amigos do namorado disse seco empurrando os rapazes.
— Ela não vai! — O batom rosa afirmou encarando o namorado rejeitado. — Ela não quer falar com você e ela não vai! Além de um ignorante é surdo?
— O que foi que você disse seu viado? — Thompson se virou para ele arqueando o corpo de forma mais ameaçadora. O rapaz se encolheu um pouco.
— Eu perguntei se além de um ignorante você é surdo também! — Repetiu petulante. — Ela já disse que não vai e você vai fazer o que?
— Ela vai! — Thompson disse com raiva. Fez um gesto para os amigos que afastaram as meninas e seguraram o outro rapaz. O batom rosa tremeu com o passo à frente que o ignorante deu, mas não recuou, mesmo quando sentiu a ponta dos cinco dedos do valentão no peito empurrando-o com força. O rapaz bateu contra a mesa e ofegou um pouco. — Vou levar ela daqui e quem é que vai me impedir?
— Eu vou. — Bradley disse parado na lateral. Thompson e os rapazes o encaram surpresos. — Encosta nele de novo e você não vai jogar o campeonato este ano.
Os quatro rapazes olharam para Bradley parado a poucos passos deles, com os braços cruzados e pernas separadas. O silêncio se fez por alguns segundos, pois ninguém além de Josh, que estava há alguns passos com as mãos na cabeça assustado, tinha ouvido Bradley dizer mais do que duas palavras antes. Thompson e os amigos o avaliaram e riram.
— Fica na sua bebê chorão. Não se meta nisso. — Se voltou para a ex. — Vamos embora Tracy. Você está me dando trabalho demais. — Estendeu a mão, outra vez, para empurrar o batom rosa e puxar a garota.
Thompson ouviu o estalo antes de sentir a dor. Olhou assombrado para a mão torta no mesmo instante em que Brad retrocedia o passo que deu e levantava o braço deixando o cotovelo alto enquanto soltava a mão torcida. Quando o rapaz que estava atrás avançou, soltou o braço explodindo o nariz dele, ao mesmo tempo em que puxou o garoto de batom rosa tirando-o da mira dos rapazes.
— Você quebrou minha mão seu cretino! — Thompson choramingou sem acreditar no que via. — Quebrou minha mão! Filho da puta! Acerta ele John! — Gritou furioso.
Com os dois surpresos pelos ataques inesperados, o terceiro armou um soco potente do qual Bradley desviou sem dificuldade.
— Você quer jogar ou ficar fora também? — Perguntou sem expressão. O rapaz avançou tentando a segunda investida. — Ficar fora. — Respondeu. Ele não desviou da terceira tentativa, apenas segurou o rapaz pelo pulso com a mão direita e com a esquerda o torceu até deslocar. O rapaz gritou de dor. O do nariz explodindo, furioso avançou. — Vou de dar férias também, não se preocupe! — Bradley completou segurando a mão desse e quebrando dois dedos. — É talvez você ainda consiga participar de um ou dois jogos. — Murmurou soltando.
— Filho da puta! Desgraçado! — Thompson recuou segurando a mão torcida. — Se eu ficar fora dos jogos vou te caçar e te matar maldito! A vadia não vale isso! É com você que ela anda me traindo? Fique sabendo que ela é só uma puta ordinária que dá para qualquer um! Pode ficar com a vagabunda! Você agora será o corno da vez!
— Você ainda tem mamãe? — Sibilou avançando.
— O... o... que...??
— Mamãe! Voce tem? Para te dar comida na boca e trocar as suas fraldas, agora que você vai ficar mixando sangue! — Um soco potente derrubou o jogador que caiu sobre um banco duplo. Sem se importar com os gritos ou com o olhar assombrado dos que assistiam, Bradley dobrou o joelho sobre o corpo do rapaz e apoiado sobre a outra perna, o agarrou pela gola da camisa levantando-o um pouco e... — ELA. — Um soco no rosto. — DISSE. — Mais um no peito. — NÃO. — Outro soco no estomago. — ELA. — Outro nos rins. — TEM. — Mais um nos rins. — O DIREITO. — Outro ainda nos rins. — DE DIZER. — mais um, desta vez no rosto. — NÃO.
— Brad! Brad chega! — Joshua gritou assustado.
— Chega cara pelo amor de Deus! — Um dos amigos de Thompson suplicou.
Bradley o largou ali e não se importou quando o corpo escorregou para o chão. Ele se voltou para os jovens que assistiam a tudo chocados cerrando os punhos.
— Ela disse não! Quando alguém diz não o homem para! — Sibilou olhando todos. Ofegava contendo a raiva. — É melhor chamarem socorro. Os três valentões precisam de atendimento. Aquele ali vai passar uma semana internado e as férias toda para se recuperar. Os três estão fora do campeonato como eu avisei.
— Você vai preso seu idiota. Vou dar queixa! Alguém chame a polícia. Vou por este demente na cadeia. — O rapaz do nariz estourado resmungou vendo o amigo ser socorrido.
Thompson recuperava a consciência gemendo. Tracy se virou para ele.
— Sem polícia Thompson. — Ela sibilou com raiva.
— É. Nada de polícia. — Ele disse lutando para levantar. — Me levem para o hospital.
— Vamos chamar a polícia Carl. Vamos dar queixa! — Tom tentou.
— Sem polícia. — Thompson repetiu sem forças. — Me levem para o hospital, agora!
Mesmo sem entender os rapazes obedeceram. Levaram o líder quase arrastando-o. Os clientes se dispersaram aos poucos. Bradley sentou em uma mesa lateral e baixou a cabeça, colocando-a entre as pernas. Tremia. Josh colocou a mão no ombro dele.
— Cara você tá legal? — Quis saber assustado.
— Estou. — Respondeu levantando a cabeça.
Tracy abaixou ao lado dele e segurou as mãos tremulas.
— Obrigada! — Murmurou. Lágrimas inundaram os olhos castanhos...
— Você devia ir à polícia.
— Não posso. — ... deslizaram suaves pela face rosada. — Não consigo! — Ela fungou. — Você estava na festa? — Ele acenou que não. — Como sabe?
— Eu apenas sei. — Respondeu o olhar reassumindo o vazio.
— É melhor irmos embora. — Josh propôs preocupado.
— É. Vamos logo. — O batom rosa concordou. Meio sem jeito tocando de leve o ombro do defensor murmurou. — Obrigado também!
Sem que ninguém esperasse Bradley levantou a mão e segurou suave a que o tocava. As duas ficaram juntas. Ele não o deixou se soltar. Levantou o olhar por um segundo, mas baixou se concentrando na mão junto a dele.
— Como é seu nome? — Perguntou em um sussurro girando os dedos finos com cuidado.
— Ethan Manson.
— Oi Ethan, meu nome é Bradley. — Mordeu os lábios indeciso. — Quer sair comigo amanhã?